Longa de terror vai ser protagonizado por Sandy Leah, que é encantada com a obra
A atmosfera de horror do longa seduziu a atriz e cantora Sandy, fã do gênero. Mutarelli já tem outro livro em fase de adaptação. Foto: Vitrine Filmes/Divulgação |
Lourenço Mutarelli não sabe ao certo o que faz sua escrita ser tão apreciada por diretores de cinema. Mas o fato é que, ao lado de Marçal Aquino e Rubem Fonseca, o paulistano está entre os escritores contemporâneos mais requisitados no Brasil. Tudo começou com o O cheiro do ralo, adaptado pelo recifense Heitor Dhalia. Depois, o escritor vendeu os direitos de O natimorto e daí em diante passou a escrever também sob encomenda para produtores e diretores.
O feito mais recente é a adaptação de A arte de produzir efeito sem causa. O filme foi batizado de Quando eu era vivo e entra em cartaz no circuito comercial na sexta-feira. Dirigido por Marco Dutra e adaptado em parceria com Gabriela Almeida, a roteirista, o longa tem Antônio Fagundes, Sandy Leah e Marat Descartes como protagonistas de uma loucura progressiva e um enclausuramento doentio. Mutarelli também acaba de terminar um livro a pedido do produtor Fernando Sanches. O grifo de Abdera entrecruza três histórias e nasceu porque o produtor queria uma história nova de Mutarelli para adaptar para o cinema.
Por enquanto, ele curte Quando eu era vivo. Em cena, o autor repete a experiência como ator em um papel para lá de secundário. A primeira vez foi em O cheiro do ralo: o escritor fazia o segurança da loja. Mutarelli gostou muito do roteiro de Dutra e Gabriela. “Eu sabia que o filme ia ser melhor que o roteiro”, compara. “Eu estranho um pouco as mudanças, mas é uma adaptação. Eu gostei, achei interessante que ele tenha mudado certas coisas porque é o filme dele, eu vendi os direitos. Estou curioso para ver, gosto muito do trailer”.
As mudanças de Dutra não são tantas assim. No livro, Júnior se separa da mulher e volta para a casa do pai, que aluga um quarto para Bruna, uma estudante de artes plásticas. Ela se torna uma espécie de irmã e de obsessão. Da moça, vem a ajuda para desvendar antigos (e assombrosos) problemas familiares. No filme, Bruna virou estudante de música. “Quando propus que a Bruna fosse uma estudante de música, a gente fez uma ponte entre ela e a mãe morta do Júnior, que era uma mulher que cantava e se relacionava com músicas e com textos satânicos. Aí entendemos a Bruna muito melhor. Foi uma decisão que considero importante”, diz o diretor.
O clima de terror impera, um detalhe que o afasta do livro. Parte desse aspecto seduziu Sandy. “Ela disse que adorava filmes de terror. Foi uma dessas coisas mágicas. À primeira vista, eu achava que ela não ia gostar do personagem nem do roteiro”, lembra o diretor. Para adaptar A arte de produzir efeito sem causa, a roteirista Gabriela Almeida conta que precisou se desvencilhar da narrativa do livro para poder achar a dramaturgia do roteiro.
O ritmo fragmentado – uma das especialidades de Júnior é a habilidade diabólica de adentrar a cabeça dos personagens e explicar o que pensam e sentem – foi um desafio. “O livro tem um narrador muito forte. E, quando você vai para a adaptação, você tem que mapear, reconhecer, mas é fundamental não tentar à força trazer a confecção dessa voz do texto porque drama é completamente diferente de narração”, avisa a roteirista. “O livro tem personagens que vão entrando nessa loucura e trazem o desequilíbrio para outros personagens. Pouco a pouco, a loucura vai contaminando as relações.”
Lapidado
Quando eu era vivo é quase um filme independente. Produzido pela RT Features, teve orçamento de R$ 1,6 milhão e foi filmado em 18 dias, uma agenda considerada pelo diretor como intensa e apertada. O contrário da maneira como Lourenço Mutarelli escreveu A arte de produzir efeito sem causa. O quarto romance do autor foi também aquele sobre o qual se debruçou durante mais tempo. Mutarelli escreve rápido. Pariu O cheiro do ralo em cinco dias. Mas a história de Júnior e a volta enlouquecida para a casa do pai consumiu um ano inteiro.
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